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Mercado de logística está em expansão

Crise nos Correios e a necessidade de serviços expressos aquecem o segmento de entregas e impulsionam a criação de novos negócios

CRIS OLIVETTE

28 Maio 2017 | 07h18

Desde o início do ano, os Correios deixaram de oferecer o serviço de frete com entrega rápida e-Sedex, voltado para o comércio eletrônico e que oferecia custo acessível às pequenas e médias lojas virtuais. A decisão tornou o mercado favorável à criação e crescimento de empresas de logística.

“A crise dos Correios não é nova. Ela vem ocorrendo há algum tempo e tem levado os donos de e-commerce a iniciar processo migratório”, diz o dono da B2Log, Jucélio Oliveira.

Segundo ele, sua empresa nasceu para atender o comércio eletrônico. “Em junho de 2014, fiz o projeto piloto de entregas para uma rede de supermercados do interior de São Paulo. Como deu muito certo, concluí que o serviço seria viável em grande escala”, conta.

Animado com o resultado, Oliveira buscou clientes e parceiros na capital paulista. “Em 2015, passamos a atender empresas como Decatholon e Dafiti, e fechamos 2016 faturando R$ 2 milhões.” O modelo de negócio adotado pela B2Log segue o conceito da economia compartilhada e utiliza veículos e motos que são conduzidos por seus proprietários.

Hoje, os carros de passeio representam 80% da frota. “Temos grande cuidado com a seleção dos motoristas. Normalmente, são profissionais que não conseguiram recolocação no mercado de trabalho. Temos secretária bilíngue, corretor de imóveis e cinegrafista trabalhando com entrega.”

Ele afirma que o nível de qualidade dos serviços prestados por sua empresa supera em muito os Correios. “A pontualidade de entrega, atrelada ao uso de tecnologia de rastreabilidade em tempo real, acessada pelos clientes, contribui para a aceitação da marca. Sendo que entregas para o mesmo dia representam 40% da demanda.”

“Oliveira diz que tem contrato com uma seguradora que averba os veículos e dá cobertura, caso ocorra algum sinistro. “Quando começamos, nenhuma seguradora oferecia esse tipo de cobertura, por isso, trabalhávamos apenas com uma transportadora agregada”, conta.

No segundo semestre, a empresa passará a atuar em todas as capitais do Sul e Sudeste, exceto no Espírito Santo. “Essa expansão nos trará crescimento robusto, porque os clientes que atendemos em São Paulo são os mesmos que iremos atender nas demais praças.”

A Mandaê, de Marcelo Fujimoto, também foi criada em 2014, a partir de uma necessidade de Fujimoto quando operava um e-commerce. “A parte de logística sempre foi a mais chata e a que tomava mais tempo. Gastava duas horas diárias para empacotar os produtos e levá-los à uma agência dos Correios. Criei o negócio para simplificar a logística das pequenas e médias lojas virtuais.”

Segundo ele, uma característica desse mercado é que para os pequenos e médios não existem muitas opções de transporte. “A não ser que o volume seja alto, eles não conseguem arcar com os custos de transportadoras privadas.”

Para solucionar a questão, a Mandaê desenvolveu plataforma que realiza integrações com plataformas de vários e-commerce, que possuem encomendas para serem enviadas para um mesmo local.

“Agregamos esse volume de objetos e, dessa forma, os pequenos podem utilizar os serviços de transportadoras privadas. Escolhemos a melhor transportadora considerando não só o custo mas também o prazo de entrega e a qualidade do serviço.” A empresa também oferece serviço de empacotamento de objetos.

A empresa atende clientes da Grande São Paulo, para os quais oferece três opções de serviços, e realiza entregas em todo o Brasil. “Nossa taxa média de crescimento, em termos de volume de encomendas, tem sido de 15% ao mês.”

Segundo Fujimoto, na última semana de abril, quando os Correios entraram em greve, o número de clientes aumentou mais de cinco vezes em relação a períodos normais.

“Na verdade, espero que a situação dos Correios melhore, porque quanto mais opções de qualidade tivermos no mercado, será melhor para todos. Não importa quem faça a entrega, desde que tenha qualidade e custos competitivos”, afirma.

Ultrapassado. CEO da Rapiddo, Guilherme Bonifácio afirma que os Correios ainda têm forte peso no mercado. “As mudanças estruturais ainda não foram realizadas, por mais que eles tenham deixado de oferecer algumas linhas de serviço, o mercado de e-commerce ainda tem nos Correios o grande parceiro logístico. Mas está claro que o modelo adotado não é sustentável.”

O empresário ressalta que os Correios têm déficit anual gigantesco e que em algum momento o governo terá de fazer algo, seja privatizar ou reformular o modelo de negócio. “Quando isso ocorrer de fato, grandes oportunidades irão surgir para novos empreendedores e para os serviços que estão tentando ganhar mercado.”

Bonifácio é cofundador do iFood e diz que a ideia de criar a Rapiddo surgiu da ‘dor’ que tinha quando trabalhava com delivery de comida. “Concluímos que outros mercados que também necessitam de entregas urgentes não estavam sendo bem atendidos, porque o segmento de entregas era informal e não fazia uso de tecnologia. Vimos que poderíamos oferecer um bom serviço e é o que temos feito.”

Em operação desde 2014, o negócio atende vários segmentos, e-commerce é um deles. “Nosso grande foco são as pequenas lojas virtuais. Não atuamos com as grandes, porque elas conseguem preços acessíveis com outros operadores logísticos pelo volume de produtos, além disso, normalmente, elas ficam fora de São Paulo.”

O negócio começou com quatro pessoas. Atualmente, emprega 120 colaboradores. No Brasil, a marca atua em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Fortaleza, Salvador e Recife. Internacionalmente, mantém operações na Colômbia e no México.

“Esse mercado ainda vai mudar muito. O consumidor começa a exigir serviço de melhor qualidade e mais expresso. Os Correios não conseguem entregar em poucas horas e a valorização da conveniência é uma tendência de consumo que não tem volta. Essa é a grande chave.”

Segundo ele, seria melhor que o mercado tivesse mais players oferecendo serviços inovadores. “Assim, o cliente pagaria menos e teria acesso a serviços de melhor qualidade.”

Empresa usa veículos não poluentes

A Carbono Zero Courier, como o nome deixa claro, chegou ao mercado para efetuar entregas sem emitir poluentes atmosféricos, com uso de tecnologia para a rastreabilidade das entregas.

“Nossas remessas podem ser feitas de bicicleta ou de furgão elétrico. Temos também 60 scooters elétricas e um profissional que faz os serviços a pé. Chamamos essa função de Johnny walker”, conta o sócio e gestor, Leonardo Lorentz.

Criada em 2010, a empresa surgiu com o objetivo de oferecer alternativa para as entregas feitas por motoboy, com foco em empresas de todos os portes.

“Atendemos muitas lojas virtuais que comercializam livros, roupas, acessórios, eletrônicos, flores, óculos, produtos de limpeza, café, revistas, brindes, alimentos quentes, frios, congelados e sucos. Cada entrega que é feita de bicicleta alivia o trânsito, os estacionamentos, o barulho e a poluição do ar da cidade”, ressalta o empreendedor.

Segundo ele, diversas empresas estão sondando os serviços da Carbono Zero por conta das mudanças que os Correios estão efetuando. “Há muito tempo eles perderam aquele padrão de qualidade que ouvíamos falar quando éramos crianças. Hoje, extraviam e quebram muitas mercadorias e amassam as embalagens.”

Lorentz diz que o furgão elétrico tem capacidade para transportar 3,3 mil litros e autonomia para rodar 80 km. Já as 120 bicicletas são subdivididas entre convencional, elétrica, cargueira e dobrável.

“Usamos o furgão tanto para levar mercadoria pesada de um lugar para outro como para recolher, por exemplo, 500 itens pequenos que são levados para determinados pontos para que os bikers façam as entregas. Fazemos alguns combinados entre esses modais”, conta.

Além do mecanismo simples de fazer a transferência das cargas para outros modais, a empresa também está criando novas bases. “Hoje, estamos em Santos, Barra Funda, Pinheiros e Barueri. As mercadorias podem ser enviadas à base com o furgão e a distribuição é feita, posteriormente de bicicleta. São ações simples que estão dando bom resultado.”

O empresário afirma que desde que entrou em operação a empresa mantém média de crescimento de 55% ao ano. “Mas neste ano estamos acelerando ainda mais o ritmo de crescimento, porque estamos ganhando muitos clientes que eram atendidos por motoboys.”

Segundo ele, as empresas simpatizam muito com a ideia da não poluição. “Mas a decisão final se deve ao fato de oferecermos o mesmo serviço de motoboys, mas com alta qualidade e tecnologia. O serviço é rastreado e pode ser acompanhado em tempo real, além disso, os pedidos podem ser feitos pela internet.

A sustentabilidade chama a atenção das pessoas, mas a tomada de decisão sempre considera o nível de serviço e o preço.”

Lorentz diz que trabalhar com bikers é uma vantagem em relação à questão de segurança, porque quem vê um ciclista não imagina o que está levando na mochila.

“A bicicleta de um biker foi roubada e quando os ladrões olharam a mochila, ficaram bravos porque ele estava levando três potes de salada. Mas é baixíssimo o índice de roubo de mochila, é menos de um por ano. Já a média de roubo de bicicletas é de duas por mês”, afirma.